2' Minutos para mudar de vida

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Módulo 1

Introdução à prevenção

Ter cancro é uma morte anunciada? Um diagnóstico de cancro é o fim de linha, ou há motivos para ser optimista? Como reduzir o risco de cancro e evitar sobressaltos?
A palavra cancro ainda surge disfarçada de “doença prolongada” na comunicação social, como se falar de cancro fosse um perigo em si mesmo ou algo a evitar. Não é que o cancro deva ser desvalorizado, afinal morrem mais de 28 000 portugueses por causa desta doença todos os anos. Mas se pensarmos que 70% destas mortes poderiam ser evitadas, falar abertamente de cancro é algo que devemos fazer com mais frequência - saber mais sobre a doença é uma das soluções mais promissoras para reduzir o número de mortes.
Com a evolução da medicina, a ideia que o cancro é uma tragédia inevitável faz cada vez menos sentido. Um diagnóstico de cancro está longe de ser uma sentença de morte: as taxas de sobrevivência têm vindo a aumentar e hoje em dia cerca de metade das pessoas diagnosticadas não morrem da doença. Ainda que existam cancros cujas taxas de sobrevivência se mantêm baixas, como o do pâncreas (11%) ou do pulmão (16%), existem outros cujas taxas de sobrevivência são superiores a 50%, como é o caso do cancro do cólon (61%), e outros ainda que rondam os 90%, como o da mama (88%) e da próstata (91%).
Ainda que seja impossível garantir uma vida livre de risco de cancro, existem diversas opções de comportamento e escolhas de estilos de vida que permitem reduzir as hipóteses de ser diagnosticado:
  • Não fumar, já que o tabaco causa vários tipos de cancro. E não é só no pulmão, há mais 13: boca, garganta, laringe, esófago, fígado, pâncreas, estômago, rim, cólon e reto, bexiga, ovário, colo do útero, e leucemia mielóide aguda.
  • Manter um peso adequado. A seguir ao tabaco, o excesso de peso e a obesidade são o segundo factor de risco externo com mais influência na mortalidade por cancro. Para evitar os quilos a mais é obrigatório ter atenção ao que se come e evitar especialmente alimentos com muito açúcar e gordura.
  • Fazer exercício físico regularmente reduz o risco de cancro da mama e do endométrio e contribui para a manutenção do peso ideal.
  • Conhecer a história familiar de cancro, o que implica saber quem teve cancro, de que tipo, e com que idade. Se tiver mais do que um familiar com cancro do mesmo lado da família, com o mesmo tipo de cancro e antes dos 50 anos, consulte o seu médico e pondere uma consulta de risco familiar.
  • Comer pelo menos 5 porções por dia de frutas ou hortícolas, que previnem o cancro da boca, faringe, laringe, esófago, estômago e pulmão.
  • Comer alimentos com muita fibra como feijão, lentilhas, ervilhas, favas, grão de bico, arroz integral, aveia, para prevenir o cancro colorretal.
  • Evitar bebidas alcoólicas, já que o consumo de álcool é um factor de risco para 7 tipos de cancro: boca, faringe, laringe, esófago, mama, colorretal ou no fígado.
  • Evitar carne processada - enchidos, presunto, salsichas, fumeiro – que causa cancro colorretal e cancro do estômago. Reduzir a quantidade de carne vermelha (carne de vaca, porco ou cabra) na dieta.  O ideal é não comer mais de 500g por semana, para prevenir o cancro colorretal, da próstata e do pâncreas.
  • Limitar o consumo de sal a 5 gramas por dia. O excesso de sal aumenta o risco de cancro do estômago. 
  • Estar exposto ao sol em segurança, para evitar o cancro de pele: procurar lugares com sombra, usar roupas com cobertura total da pele, estar ao sol apenas nos horários seguros - antes das 11h e após as 17h - e usar o protetor solar. Nunca usar solários.
  • Para quem tem filhos, garantir que eles têm as vacinas em dia. A vacina contra o HPV faz parte do Programa Nacional de Vacinação e é gratuita para raparigas e rapazes. A vacina previne mais de 90% dos casos de cancro do colo do útero e praticamente 100% dos casos de verrugas genitais. 
Finalmente, além de evitar os comportamentos que aumentam o risco de cancro, é possível seguir várias medidas que contribuem para a deteção precoce do cancro. Quanto mais cedo for descoberto um cancro, maior é a probabilidade de cura.

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Atualização: Todos os rapazes nascidos a partir de 2009 podem também fazer a vacina contra o HPV gratuitamente - e não apenas para as raparigas, como apresentado no episódio - no âmbito do Programa Nacional de Vacinação. 
A prevenção de cancro é só para os mais crescidos? Com que idade se pode começar a prevenir o cancro? Quais as vantagens de começar desde pequenino?
O cancro é essencialmente uma doença da idade, que é muito mais comum a partir dos 50 anos. O aumento de casos de cancro deve-se sobretudo ao aumento da esperança de vida, verificando-se que os casos de cancro aumentam exponencialmente com a idade.

Mas se o cancro afeta maioritariamente as pessoas mais velhas, porque é que é necessário adoptar comportamentos saudáveis desde pequenino? O que sabemos é que a maior parte dos cancros é influenciada por factores ambientais, pequenas agressões ao nosso organismo (e às nossas células) vindas do exterior, que se vão repetindo ao longo dos anos. São estes factores de risco que aumentam a predisposição de aparecimento de cancro. Este processo pode demorar muitos anos, e não raras vezes, décadas. Por isso, quanto mais cedo evitarmos comportamentos de risco e adotarmos comportamentos saudáveis, melhores serão as probabilidades de reduzir o risco de cancro. Quanto mais vezes se repete um comportamento de risco, maior é o seu efeito: quantos mais anos se fuma, ou mais escaldões se apanha, maior o risco de cancro. 

A maioria das medidas para reduzir o risco de cancro não é novidade para ninguém:

  • Não fumar. O tabaco causa 14 tipos de cancro: boca, garganta, laringe, esófago, pulmão, fígado, pâncreas, estômago, rim, cólon e reto, bexiga, ovário, colo do útero, e leucemia mielóide aguda.
  • Manter um peso adequado. O excesso de peso e a obesidade são o 2º factor de risco externo para o desenvolvimento de cancro a seguir ao tabaco. Para manter um peso ideal é fundamental evitar alimentos com muito açúcar e gordura.
  • Comer frutas e hortícolas, pelo menos 5 porções por dia, que ajudam a prevenir o cancro da boca, faringe, laringe, esófago, estômago e pulmão.
  • Comer alimentos ricos em fibra - feijão, lentilhas, ervilhas, favas, grão de bico, arroz integral, aveia - para prevenir o cancro colorretal.
  • Reduzir o consumo da carne processada - enchidos, presunto, salsichas, fumeiro – que causa cancro colorretal e cancro do estômago.
  • Comer pouca carne vermelha - carne de vaca, porco ou cabra - que pode causar cancro colorretal, da próstata ou do pâncreas. O ideal é não ultrapassar as 500g por semana. 
  • Evitar alimentos muito salgados, já que o excesso de sal aumenta o risco de cancro do estômago. É preciso estar atento ao rótulo dos alimentos, em especial os processados, que escondem grandes quantidades de sal. Não se deve consumir mais de 5 gramas de sal por dia.
  • Não consumir bebidas alcoólicas, para reduzir o risco de 7 tipos de cancro: boca, faringe, laringe, esófago, mama, colorretal e fígado. 
  • Ter cuidado com a exposição solar, para evitar o cancro de pele: procurar lugares com sombra e usar roupas com cobertura total da pele, estar ao sol apenas nos horários seguros - antes das 11h e após as 17h - e usar o protetor solar. 
  • Fazer exercício físico regularmente, que reduz o risco de cancro da mama e do endométrio e contribui para a manutenção do peso ideal.
  • Tomar a vacina contra o HPV aos 10 anos, que faz parte do Programa Nacional de Vacinação e é gratuita para raparigas e rapazes. A vacina previne mais de 90% dos casos de cancro do colo do útero e praticamente 100% dos casos de verrugas genitais. 

Se és criança, fala com os teus pais e professores sobre o que podem fazer em conjunto para evitar o cancro. Desafia os adultos a darem-te ouvidos: exige que não fumem na tua presença, pergunta se a comida que comes em casa ou na cantina é a opção mais saudável. Mas não penses que por seres menor de idade não tens responsabilidades. A decisão de passar o dia sentado em frente à TV ou ao smartphone é tua, ninguém vai fazer desporto por ti. Mas não penses que é complicado: basta correr, saltar, caminhar ou fazer desporto. Ah! E brincar também conta.


Se tiver filhos, discuta com eles quais os comportamentos mais arriscados que estão dispostos a alterar. Podem fazê-lo em conjunto, aprendendo a cozinhar novos pratos, ou a fazer exercício em família. Verifique ainda se os miúdos têm as vacinas em dia: a do HPV (para meninas), que previne o cancro do colo do útero,  e a do HBV (para meninas e meninos), que previne o cancro do fígado.

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Não. Contrariamente ao que é comum pensar-se, o cancro não é uma doença da modernidade (séc. XX). Existem inúmeros registos fósseis que comprovam que este tipo de doenças já existia na espécie humana há milhares de anos atrás. Por exemplo, a paleopatologia mostrou um tumor ósseo no úmero de um cadáver de um guerreiro da idade do ferro (cerca de 10.000 a.c.). E se estendermos o estudo a outras espécies – o cancro não é exclusivo dos humanos – podemos encontrar evidências ainda mais antigas como, por exemplo, vestígios de lesões tumorais nas ossadas de dinossauros.

Apesar de o cancro ser uma fatalidade que tira a vida a mais de 28 000 portugueses todos os anos, convém não esquecer que hoje em dia cerca de metade das pessoas diagnosticadas não morrem da doença. Ter cancro não é, de todo, uma sentença. Assim, além da prevenção que é um elemento determinante para evitar o cancro, há que fazer os rastreios e estar atentos a sinais de alerta, e procurar o médico sempre que houver alguma suspeita. Quanto mais cedo se detetar precocemente um cancro, maior é a probabilidade de cura.

Cancro é o termo genérico com que vulgarmente se designam vários tipos de tumores (ou neoplasias) malignos: carcinoma (neoplasia maligna epitelial), sarcoma (neoplasia maligna do tecido conjuntivo), linfoma (neoplasia maligna de células linfoides), leucemia (neoplasia maligna de células sanguíneas).

É uma pergunta de resposta dificílima. Embora as mensagens sejam simples, a prevenção do cancro exige uma mudança de comportamentos, muitos deles enraizados nos hábitos e na cultura. Diz a Organização Mundial de Saúde que conseguiríamos reduzir a mortalidade por cancro para metade se adotássemos um estilo de vida saudável e preveníssemos a obesidade. As estimativas apontam para uma redução da ordem dos 70% se somarmos a adesão aos rastreios nas idades adequadas e o conhecimento da história familiar de cancro. Isto são ótimas notícias mas existem entraves à sua concretização. Por um lado, o tema cancro é ainda um tema tabu, do qual evitamos falar abertamente. Esta “reserva” dificulta o aumento de literacia sobre o cancro por parte das pessoas. Depois, expomo-nos cada vez mais aos fatores de risco: por exemplo, o consumo de tabaco e de álcool tem aumentado em certos grupos etários. Por fim, as taxas de cumprimento dos planos de rastreio são baixas: o rastreio do cancro da mama chegou a 98% das mulheres, e destas teve uma adesão de 51%; o rastreio do cancro do colo do útero chegou apenas a 61% das mulheres com uma adesão de 94%; e o rastreio do cancro colorretal apenas chegou apenas a 33% da população, com uma taxa de adesão de 36%. No caso do cancro da pele, os fatores culturais são fortíssimos e sobrepõem-se ao risco apregoado de melanoma. As “férias de praia”, com padrões de exposição excessiva ao sol, bem como os modelos de beleza em voga, que privilegiam as peles morenas, fazem-nos ignorar os perigos e a gravidade do melanoma. Ignorar a informação torna a prevenção de cancro muito difícil, mas mudar a situação só depende de ti.

Várias pessoas pensam que existe uma ligação entre o stress psicológico e um maior risco de cancro. No entanto, não há evidência que permita suportar este facto. Na verdade, a maioria dos estudos realizados até ao momento não encontrou qualquer relação entre o stress psicológico e o cancro. 

Sim e não, dependendo do tipo de cancro. A evidência acumulada mostra que as mulheres que tomam a pílula têm um risco ligeiramente superior de cancro da mama e do colo do útero. Por outro lado, têm um risco ligeiramente inferior de cancro do endométrio, do ovário e colo-rectal. Globalmente, e falando apenas de cancro, os benefícios parecem ultrapassar os riscos, ainda que se saiba que possa causar cancro da mama ou do colo do útero em algumas mulheres. As vantagens e desvantagens devem ser ponderadas com o médico tendo em conta o contexto pessoal e familiar.

Os estudos realizados até hoje não encontraram qualquer ligação entre cancro e os químicos utilizados nos produtos de higiene pessoal como os desodorizantes. Além disso, a maioria dos países tem regulamentos rigorosos para garantir que estes produtos cumprem com as normas de segurança.

CONHECER OS NÚMEROS DO CANCRO E DA PREVENÇÃO EM PORTUGAL

Cada vez há mais casos de cancro no mundo. Mas será isso razão para estarmos todos pessimistas? Faz como o menino Julião: procura informação sobre os principais tipos de cancro em Portugal e vê o que podes fazer para evitar esta doença.

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Duração: 45 minutos

Como fazer?

1. Faz uma pesquisa orientada no website do Global Cancer Observatory (https://gco.iarc.fr/) e identifica os 5 cancros mais incidentes em Portugal (dica: utiliza o Guião de Exploração do Global Cancer Observatory para chegar aos dados pretendidos);
2. Procura saber quais os fatores de risco de cada um dos cancros identificados (dica: espreita os links escolhidos para ti na secção “Explorar” onde encontrarás informação fidedigna sobre os fatores de risco de vários tipos de cancro. O website da Liga Portuguesa Contra o Cancro é uma boa fonte de informação...);
3. Classifica os fatores de risco encontrados como “controlável” ou “não controlável”. Por exemplo, podes controlar o que comes mas não podes controlar a idade que tens;
4. Compara os resultados da tua pesquisa com os dos teus colegas e discute com eles o que podes fazer para reduzir o risco de cancro.
 
Guião de exploração do Global Cancer Observatory
1 Acede ao website https://gco.iarc.fr/
2 Clica em “Cancer today”
3 Tens várias formas de explorar as estatísticas mais atuais sobre cancro nesta página. Sugerimos que cliques em “Multi bars” para aceder aos dados de forma mais clara.  
4 Altera os campos do lado esquerdo para obteres os dados que pretendes.
5 Utiliza este glossário para identificar as métricas relevantes para a tua pesquisa.

Glossário

Incidence (Incidência) - Número de novos casos de cancro numa população por ano.

Mortality (Mortalidade) - Número de mortes por cancro numa população por ano.

Prevalence (Prevalência) - Número total de pessoas diagnosticadas com um determinado tipo de cancro e que estão vivas ao fim de um determinado tempo (1, 3 ou 5 anos).

Number (Número) - Número total de casos por ano.

Crude rate (Taxa bruta) - Taxa correspondente ao número de novos casos ou de mortes por cancro por cada 100.000 pessoas em risco na população.

ASR (Taxa Padronizada pela Idade) - Taxa correspondente ao número de novos casos ou de mortes por cancro na população por cada 100.000 pessoas, ajustada de acordo com a distribuição padrão de idades
de uma população (World Standard Population). É a métrica ideal para comparar populações de diferentes países, pois cada país tem uma pirâmide etária diferente.

Cumulative risk (Risco acumulado) - Probabilidade ou risco de um indivíduo ser diagnosticado/morrer por cancro num período de tempo específico. É expresso como o número de recém-nascidos em cada 1000 que se espera que venham a desenvolver/morrer de um determinado tipo de cancro antes dos 75 anos considerando que as taxas de incidência/mortalidade permanecem constantes durante esse período de tempo.

 

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